Wednesday, April 12, 2006

Um Domingo qualquer

Um Domingo qualquer



Porque se resume tudo no corpo? – perguntaste encostada ao vidro, frio, suponho, da janela do nosso quarto.
Oito horas da manhã de Domingo. Tínhamo-nos deitado cedo, cada um com a sua leitura, um hábito que arrastávamos já há anos.
Gosto quando interrompes a minha leitura para me ler uma frase do teu livro, interpretas, explicas e depois, só depois de tirares as tuas conclusões, perguntas o que acho. Gosto quando me interrogas, gosto quando finges que ouves e concordas. Faz-me sentir importante. Um beijo e depressa voltamos à mancha de letras que nunca nos saiu das mãos. Por vezes, depois dessa interrupção, aproveitas para me contar coisas do teu dia, mesmo depois de o termos passado juntos.
Lá fora a chuva rebenta nos estalidos das farturas que compramos na roulotte em dias de feira. Enrolo-me nos cobertores até ao nariz e redobro a sensação de conforto. A música da chuva enche o quarto.
Acendo a luz do candeeiro de cabeceira, um tom que aquece e diminui o cinzento que entra pela janela.
Continuas encostada ao vidro.
Ainda não me respondeste, dizes.
Gosto de te ver de camisa de noite. Prendo-me nos relâmpagos de transparências quando em movimento a luz te descobre contornos.
Apago a luz da cabeceira para sobressair a transparência da luz fria que entra pela janela e que brinca com a tua camisa de dormir, enquanto caminhas na minha direcção para te deitares comigo.
Então, não me respondes?
Poiso o livro que ainda não tinha começado a ler. Rimos e fazemos amor.
Tens razão, dizes. Há alturas em que tudo se resume no corpo.

Labels:

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

este ano o dia 12 de abril foi uma quinta feira, e ontem, foi sexta feira 13... não sou nada supersticiosa... (se fosse, se calhar teríamos sido mandados parar pela polícia)...
é bonito, isto que escreveste há um ano atrás...
t.

4/15/2007 12:47 am  

Post a Comment

<< Home

Web Site Counter
Free Hit Counter