MEMÓRIAS
Toco na memória de tempos que, como o vejo agora, nunca vivi. E no entanto vivo-os agora, encapuçados de “memórias”. Porque a memória é recordar, com toda a parcialidade que nos convém, e viver novas situações de um passado que confundimos.
Gosto de lembrar as coisas todas como foram, como são para mim.
A chuva cai na memória. Não literalmente, mas de algum modo realmente, o suficiente para esfumaçar e confundir as imagens que guardamos. Sonho, realidade, sonho real e realidade fantasiada, mescladas num Agora estampado num papel.
O pormenor liga-nos à realidade da imagem amarrotada pela chuva da memória. Dá-lhe sentido. E cresce, de fora para dentro. As cores vão ganhando nitidez e contraste e passam a ser nossas, se antes o ainda não eram.
De dentro para fora. Libertamos a imagem. Guardamos o importante. Com vento e com chuva, amarrotada.
Um sonho. A memória repetida do que nunca aconteceu para além do sonho.
Tudo serve de desculpa para lembrar.
Uma presença que foi.
Cravo os dedos numa corda gasta, suja de memórias. A trama bolorenta da corda são já as minhas impressões digitais. Para lá da minha entrega silenciosa, as vidas rodopiam, jubilam e tombam.Não sei quando virás. Não sei se existes. Mas espero. No silêncio da minha entrega, com a corda gasta que me marca os dedos.
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